terça-feira, 4 de novembro de 2014

AUTOPSICOGRAFIA

AUTOPSICOGRAFIA (in Poemas Escolhidos - O Globo)


Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só as que eles não tem.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

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O poeta é um fingidor

Amélia Luz – Pirapetinga/MG

Disse-me Pessoa:
“O poeta é um fingidor”.
Gargalha se perde um amor
embriaga-se de versos sentidos e
sua máscara não mostra
a angústia sofrida
enganado-se no espelho da vida!
Se sou poeta fingidor, não sei...
Sou um fado triste nas ruelas
antigas da Mouraria
percorrendo trôpego
as trilhas da desilusão
guiado pela dor da sua ausência.
Há uma indefinição no ar
um cansaço de um passado que pesa
num presente que teima em me assustar...
Sim, eu serei o poeta fingidor
ou o fado triste, no canto dos amores perdidos?
Soluço silêncios nas horas que gotejam
amargas anunciando as madrugadas...
Resta-me somente um bandolim, uma canção
e um cálice de Vinho do Porto
para brindar a sua despedida

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