segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


 

Era uma pequena cidade do interior, daquelas que tinha somente uma rua com calçamento e as demais de terra batida. Ali funcionava o comércio, o correio e o ponto do ônibus que circulava uma vez por semana para a cidade grande.


Essa rua desembocava em uma pracinha defronte a igreja, onde havia um casarão pertencente a um comerciante cuja filha era muito bonita e por isso não a deixava sair de casa, ficava na janela assistindo a tudo o que se passava.


Mantinha esse mirante sempre enfeitado na esperança de que algum rapaz viesse cortejá-la.


Um pouco antes de o dia clarear, a mocinha já estava toda arrumada, regando as flores que ficavam na soleira e ali recebia cumprimentos e cordiais saudações dos moradores que iam e vinham.


Nesse mundo que lhe foi imposto, viu toda sua vida passar e foi escrevendo as suas ansiedades e aspirações em uma caderneta, que foi encontrada entre seus pertences, depois que partiu para outra dimensão.


 O POEMA DE UMA VIDA SOLITÁRIA

A menina debruçou na janela...

Com a ajuda da cadeira da sala.

Viu o mundo desfilar!

Brincou de boneca papai e mamãe.

 

A menina-moça debruçou na janela...

Viu o mundo girar.

Aquarela colorida!

Vestiu o primeiro “soutien”, sentiu-se mulher.


A mocinha debruçou na janela...

Viu os sonhos dos adolescentes.

Quinze anos...


Primeiro baile, um beijo na face!

Voou pelas alturas!
 

Dançou a valsa do Imperador!

Percorreu os bosques de Viena!

Navegou no Danúbio Azul!


A jovem debruçou na janela...

Viu o primeiro amor.

Desfraldou o seu segredo.

Um fruto do príncipe encantado!


A mulher debruçou na janela...

Viu a juventude ficar no passado.

Um filho habitou o seu mundo.

As fantasias terminaram, sentiu-se uma plebéia.


A senhora debruçou na janela...

Viu o mundo desabar.

Conversou com Jesus.

Confortou-se na religião.
 

Da cadeira de balanço da sala de estar.

Repassou toda sua vida.

Viu a janela se fechar.

Serraram-se as cortinas.

E a sua luz se apagou.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

O PORTAL DO POETA BRASILEIRO AGRADECE SEU COMENTÁRIO!