sexta-feira, 30 de setembro de 2011

"DA MINHA JANELA AFORA PELA JANELA DE MIM ADENTRO"



- À Guisa de Posfácio -

A MEMÓRIA PRECEITUA A HISTÓRIA. Este conto que vos deixo é presença de mim mesmo. Ténue lembrança de um distante passado cujo presente, alvoraçado, é o manifesto possível de outro prazo descartado.

CONFIGURO O IRREPARTÍVEL PATRIMÓNIO DOS LARGOS – São Pedro e o Carmo. A desacomodada e colossal amálgama de cimento confrontada com as velhas alvenarias. Fachadas de casas gastas, duradoiras, imanentes de história, que tenazmente resistiram à inteligência humana erosiva no tempo.

ESCREVO SOBRE AS PESSOAS, pois não há cidades sem gente, seus hábitos que, insoluvelmente, demarcaram, assinalando os meus Largos. Gerações que os transformaram metamorfoseando-os numa constância de vicissitudes.

DEBRUÇO-ME SOBRE A RIA FORMOSA no desejo de a tornar a ver.

A VELHA PONTE. Apanhar os barcos da carreira para a Ilha de Faro: “Santa Natália”, “Isabel Maria”, “Ria Formosa”, “Gavião”, “Alegria”, os quais, no Ramalhete, no refluxo da maré, na desmesurada contracção da navegabilidade da Ria, em marés vivas, atafulhados de gente, bastas vezes ali davam em seco.

QUANDO OS BARCOS ENCALHAVAM, faziam as maravilhas dos veranistas, os inquilinos dos Largos que vos digo. Singulares, todos eles olhavam a água salgada de negro vestida, crestada de lodo. Lodo desprendido no libertador esgaravatar da possante hélice. O mestre do leme com a máquina à ré, a toda a força, pois tudo sai por onde entra, enterra na água, cada vez mais fundo, o cadaste do barco, refazendo a navegabilidade rumo à Ilha. As ovações, o clamor repontado de palmas, traduziam a alegria após a soltura dos barcos da carreira…

SULCAR OS ESTEIROS NO SAVEIRO de vela carangueja – o “Não Te Rales”.

EU, DO SOL ASSOLAPADO, na Ilha de Faro e na duna assoreado, brumoso, sob o pano-cru da vela espreguiçado. Por sal e com maresia odorado, vislumbrava o adejar iridescentes de asas, aves que, aqui e ali, debicando iam.

PORQUE A MEMÓRIA SE CLASSIFICA COM A HISTÓRIA. Sublinho quantos me animaram: Factos, Pessoas, Locais, Móbiles.

COLHE ESTE MEU LIVRO o rememorativo de numerosos amigos.

*SÉRGIO MATOS - POETA ESCRITOR

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